Não foram muitas vezes que apanhei na minha infância, mas entendo que minha mãe deu o melhor de si e talvez tenha reproduzido modelos que recebeu para me corrigir.

Meu desejo atual, é educar as crias com foco no afeto, na compreensão, no respeito e no aprendizado mútuo. Diferentemente da educação tradicional, a positiva entende que castigos ou chantagens, por exemplo, não são construtivos para o bom desenvolvimento da criança.

Por isso, a educação positiva dá ênfase ao melhoramento da autonomia, do otimismo, da autoconfiança e de outras habilidades que preparam a criança para a vida. Tudo isso sem deixar de estabelecer limites firmes e regras sólidas.

Ao pensar nesse tema, tendo em vista a educação dos filhos, várias respostas surgem à pergunta que me faço: Porque bater? Todos nós somos capazes de dar motivos para a palmada e alguns de nós, ainda uma pequena parcela, não quer bater, e até não usa este artifício, porém, o reconhece como um meio útil para solucionar o comportamento dos filhos.

São algumas das respostas: para educar, para mostrar quem manda, para impor limites, para que meu filho não se sinta dono do mundo, para que meu filho não se torne um delinquente, para segurar as rédeas e por aí vai.

Vários motivos nos levam a crer que a palmada é mesmo uma aliada na tarefa de educar, sendo tratada como um direito dos pais. Quem se lembra da polêmica que a Lei da Palmada gerou onde muitos afirmavam sentirem-se ofendidos por não poder dar uma simples palmada em seus filhos?

Porque não bater?

Já para esta pergunta poucos de nós possui razões suficientes para respondê-la, ou até parâmetros que nos auxilie a compreender que não bater é eficiente e é a única forma de educar que não gera traumas.

Sim, é a única!

Como afirma Jane Nelsen em seu livro Disciplina Positiva, beira ao absurdo a crença de que para que a nossa criança fique bem, devemos antes fazê-la se sentir mal. A crença de que ao bater estou impondo um comportamento positivo é paradoxal contudo, muitos de nós não parou para questionar este modelo de educação e é esta a principal razão pela qual as palmadas ainda existem.

É verdade que as palmadas acabam com o comportamento no momento em que ele está acontecendo. Bater oferece aos pais um verdadeiro conforto imediato, já que a criança com medo se acanha, chora, e para de incomodar.

Este resultado também acaba estimulando o uso da força.

Entretanto, a opressão, a repreensão, a imposição do medo, a cultura da agressão para solução de conflitos, a demonstração de que em um acesso de raiva podemos bater, são ingredientes que compõem este tapa. É como se durante o movimento de levantar as mãos e desferir o tapa todas essas características fossem impregnadas no corpo da criança que apanha. Todas!

Sendo assim, acreditar que as razões que nos levam a bater são suficientes para manter este modelo de educação, é fatalmente comprar o pacote da frustração e tatuá-lo com as próprias mãos na sua cria, gerando um ser desconectado com a realidade, uma pessoa que desconhece as consequências normais de suas atitudes, alguém com sério abalo de estima por ter crescido com a mensagem de que não é bom o suficiente e merece  inclusive apanhar, o que dá espaço para violências domésticas, suicídios, bullying, assédio moral, jogos como a Baleia Azul dentre outras mazelas sociais.

A você parece drástico? Experimente colocar-se à frente das mãos que batem (ou do cinto, da vara, do pedaço de pau, do chinelo) e fique ali por apenas dois minutos sentindo o que este ato lhe impõe.

Educar sem bater dá mais trabalho, exige mais tempo, exige paciência, porém, sem dúvida alguma a educação positiva age na esfera socioemocional do indivíduo e gera melhorias cognitivas como o desempenho escolar, o convívio com as pessoas e fortalece o vínculo entre os filhos e demais membros da família.

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