A chegada de um filho é marcada por muitas mudanças na vida do pai que aceita esse papel.

Um novo ser (ainda que muito bem vindo), nos convida a dividir toda a atenção, todos os espaços, todos os horários, as refeições, as orações, e até o banheiro.

Por sobrevivência, este pequeno precisa da presença de um adulto e ver-se sozinho é algo surreal, devastador, algo que ele não quer passar de forma alguma. Aos pais incumbe a tarefa de amenizar o sofrimento e permitir que esta criança se desenvolva bem.

Há uma forte crença de que quanto mais os pais se entregam aos filhos, melhor é a criação e melhor é o desenvolvimento. Será?

A criação de um filho e a adaptação desta nova família é relacional. Relacionando-se o ambiente vai sendo moldado, o amor fortalecido, as necessidades atendidas e assim segue. É uma construção onde cada pessoa é uma peça da engrenagem e esta engrenagem funciona conforme o equilíbrio entre as forças.

A criança entrega tudo o que tem, afinal ela ainda está construindo o seu Eu. Já os pais, adultos da relação, é quem devem observar o que estão entregando para não iniciarem ali um modelo onde o amor é confundido com “entregar-se a qualquer custo, doa a quem doer”.

Estabelece-se  com a entrega de tudo o que se tem um ambiente que mostra pra criança que ela é o centro e é ela quem deve estar feliz naquela família e a mensagem que a criança recebe não será outra, senão a de que “Ok eu entendi que sinônimo de amar é sofrer”, parafraseando Chitãozinho e Xororó.

Ah mas ainda não falamos de sofrimento né, afinal, receber um filho é uma dádiva! É bem isso, receber um filho é uma benção, o amor que se instala no lar, as alegrias nas pequenas coisas são incrivelmente mais presentes e mais fortes do que antes de tê-lo.

Porém, esquecer-se do casal, do homem e da mulher que existiam antes da criança é igualmente bom e alegre? Será que os pais que oprimem seus verdadeiros desejos, suas necessidades, seus limites do cansaço, estão o tempo todo felizes?

Me parece que a resposta não é positiva e isso apenas é presente nas famílias porque ainda somos oprimidos por uma crença popular de que ser mãe é padecer no paraíso (e aqui incluo os pais que compartilham a educação dos filhos) que nos afeta nos movendo para o caminho da entrega extrema motivada pelo medo do risco de mudar e não dar certo e acabar tendo que ouvir dos nossos pais a boa e velha frase: Eu avisei!.

Acontece que o modelo de entrega extrema, o viver sem qualquer liberdade em relação aos filhos, ensina através do exemplo. A criança que tem uma mãe ou um pai que “vivem por ela” recebe a incumbência de fazer esta mãe e este pai viverem. Já pensou no peso disso?

O exercício de uma paternidade consciente, onde os pais têm a sua liberdade em relação aos filhos e estão atendidos em suas necessidades assim como a criança, cria uma relação de respeito mútuo ensina que o amor é compartilhado e que os limites servem a uma boa causa que é o equilíbrio, a sanidade, a leveza do lar.

Quando a criança entende que seus pais respeitam a si mesmos, às suas necessidades, às suas crenças, seus valores, ela compreenderá o quanto deve amar-se e respeitar-se, oferecendo isso para o mundo. Suas relações serão mais saudáveis, suas escolhas serão mais acertadas, seus desafios serão mais bem superados pois ela entenderá que antes de qualquer passo, deve consultar-se a si mesma, ouvir a sua voz interior, aquela que a conhece muito bem e que é uma aliada sua.

Deixo uma reflexão do pai que cria para vocês que me leem: Quantas vezes você costuma questionar-se ou refletir sobre que exemplo é você para o seu filho e qual é a mensagem de amor que você está passando a ele?

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